Eleições em Israel: ainda sem um final conclusivo

Samuel Feldberg – Especial para a TJ

Mais uma rodada de eleições em Israel terminou sem um resultado conclusivo, sem um bloco de partidos que some claramente 61 mandatos na Knesset, podendo assim formar um novo governo.

Historicamente o eleitorado israelense costumava dividir-se entre direita e esquerda e as plataformas eleitorais baseavam-se em temas como as negociações de paz com os palestinos, questões econômicas e sociais ou, esporadicamente, demandas específicas como apoio aos aposentados ou a rejeição de privilégios para os ultra-ortodoxos.

Mas nos últimos dois anos, o cenário eleitoral se alterou radicalmente, com o primeiro ministro Benjamin
Netanyahu batendo recordes de longevidade, enquanto enfrenta três processos em que é acusado de corrupção e tentativas de manipular a mídia em troca de favores. O ex-primeiro-ministro Ehud Olmert, também acusado de corrupção, renunciou ao mandato quando chegou a esta etapa do processo. Netanyahu alega que o processo é politicamente motivado, enquanto seus opositores apontam para os riscos de obstrução da justiça por um primeiro-ministro sendo processado, algo inédito na história do país. E a campanha eleitoral se transformou em uma batalha entre os apoiadores e os opositores do primeiro-ministro, com os números demonstrando que, na realidade,
Netanyahu ainda é o político mais popular de Israel. E ainda que seu partido, o Likud, venha perdendo terreno, é de longe o mais votado em todo este ciclo de eleições inconclusivas.

Analisemos os resultados:

O Likud, partido de Netanyahu, obteve 30 mandatos, quase o dobro de seu adversário mais próximo, mas, no sistema eleitoral israelense, ainda sujeito a conseguir convencer outros 31 parlamentares a se unirem a ele para formar um governo.

E se as últimas rodadas eleitorais já haviam terminado em impasse, esta tem algumas peculiaridades; por um lado, partidos de direita como o Yamina, o New Hope (a dissidência do Likud criada por Guideon Saar) e o Israel Beiteinu estão contabilizados no campo anti-Netanyahu. Por outro, os eleitores árabes voltaram a ter mais de uma opção que os representasse e o partido Ra’am (UAL) obteve quase a metade dos votos do eleitorado árabe, com uma plataforma de conciliação e proposta de participação e inclusão no executivo. É uma mudança histórica na relação entre a maioria judaica e a minoria árabe no país. Curiosamente, apesar de uma diminuição significativa no número de eleitores, os árabes se tornaram um dos fiéis da balança nesta rodada.

A formação de uma coalizão apresenta enormes dificuldades de ambos os lados do espectro eleitoral. Os apoiadores de Netanyahu incluem a direita radical, os herdeiros dos Kahanistas, que não respeitam nem os árabes, nem os membros da sociedade LGBT e, em muitos casos, nem os judeus laicos. Para que Netanyahu possa formar um governo com eles e os ultra-ortodoxos, necessita ou do apoio dos partidos árabes ou de desertores – nos moldes do que aconteceu com o partido Azul e Branco nas últimas eleições. O Yamina de Naftali Bennett poderia ser um dos candidatos mas, depois da experiência mal sucedida de Benny Gantz, está receoso de também ser enganado em um governo de rotação, com Netanyahu inicialmente como primeiro-ministro.

Os árabes, caso aceitos pelos sócios de Netanyahu, viriam com uma longa lista de exigências, entre as quais mudanças na Lei de Nacionalidade (Hok Haleom) que veem como discriminatória, ampliação dos orçamentos destinados ao setor árabe da sociedade e mudanças na lei que limita a regularização das construções ilegais.

No campo anti-Netanyahu, os 45 mandatos firmes dependem ainda do apoio de Bennett, Guideon Saar e dos partidos árabes. Juntos poderiam formar um governo de 68 cadeiras na Knesset, mas com enormes tensões internas, principalmente em relação às diferenças entre os partidos árabes e os de direita. Seria um governo quase inédito, sem a participação dos ultra-ortodoxos que, aliás, já declararam preferir os árabes aos partidos laicos como parceiros.

A grande pergunta continua sendo: quão importante é a motivação de substituir Netanyahu? Se este grupo for o vitorioso, poderiam rapidamente aprovar uma lei que proíbe um político indiciado de candidatar-se às eleições ou de ser nomeado primeiro-ministro, o que eliminaria Netanyahu da vida política. Mas também seria, provavelmente, a sentença de morte do novo governo, uma vez que as eleições seguintes trariam de volta o alinhamento tradicional dos partidos.

Em pouco mais de um mês, saberemos se Israel tem um novo governo ou começará a campanha para as próximas eleições em outubro deste ano, agora sem o impacto da Covid-19.

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