Neste 5780 o Rabino Michel Schlesinger deseja o fortalecimento de uma sociedade de diálogo
Bacharel em Direito pela USP, Michel Schlesinger é rabino da Congregação Israelita Paulista (CIP) e representante da Confederação Israelita do Brasil para o diálogo inter-religioso. Foi o primeiro brasileiro a fazer o rabinato em Israel (com o curso todo em Hebraico) e também fez capacitação nos EUA para cuidar de doentes terminais.
Quando o Rabino Henry Sobel se aposentou, ele assumiu sozinho, aos 30 anos o Rabinato da CIP. Esteve uma vez com o Papa João Paulo II e quatro vezes com o Papa Francisco e recebeu em sua casa o Cardeal Koch, responsável do Vaticano pelo diálogo com a comunidade judaica.
Ele relata com exclusividade para a Tribuna Judaica sobre sua capacitação em Londres, sua viagem a Áustria, fala o que espera da nova gestão e deixa sua mensagem para o Rosh Hashaná.
Tribuna Judaica: A CIP vive hoje uma fase especial, com uma nova gestão, do Mario Fleck, que é um dirigente com bastante experiência comunitária. Quais são as perspectivas com essa nova gestão?
Rabino Michel Schlesinger: Ter o Mário Fleck à frente da Congregação Israelita Paulista é um enorme privilégio. O Mario conjuga experiência de gestão empresarial com ativismo comunitário de longa data. Na sua gestão, o crescimento da CIP poderá acontecer de maneira ainda mais acelerada na mesma medida em que aprofundamos o grau de acolhimento em relação àqueles que já se encontravam conosco.
TJ: O senhor fez recentemente uma capacitação em Londres. Conte-nos um pouco sobre esta viagem e o que trouxe de lá que pode ser aplicado aqui.
RMS: Em 2012 realizei um primeiro sabático em Nova York. Desta vez, na capital da Inglaterra, pude estabelecer contato próximos com rabinos e congregações daquela cidade que possui mais de 200 mil judeus. Tive a oportunidade de estudar livros tradicionais do judaísmo, como o Talmud, em maior profundidade. Participei de capacitações em arrecadação de fundos e prevenção de abuso de menores em comunidades religiosas. Pude estabelecer contato com o trabalho inter-religioso realizado por lá. Em função do Brexit, estive em um seminário sobre o papel dos religiosos em uma sociedade fragmentada, e lá pude estabelecer paralelos entre a situação que eles estão enfrentando e a polarização que também vivemos aqui. Em ambos os casos, o papel de reconciliação que religiosos podem desempenhar é essencial.
TJ: O governo austríaco fez um convite para que você visitasse o país. Quais são suas impressões desta visita?
RMS: Estive outras vezes em Viena. Nesta viagem, no entanto, o foco foram os encontros com a liderança da comunidade judaica local e as importantes discussões que tivemos sobre o fortalecimento do nacionalismo e a volta do antissemitismo para a Europa.
TJ: Deixe uma mensagem de Rosh Hashaná para nossos leitores.
RMS: Neste 5780 desejo que possamos fortalecer uma sociedade de diálogo. Espero, sinceramente, que as divergências sejam vivenciadas como oportunidades de aprofundamento da experiência humana. Existe uma importante diferença entre uniformidade e unidade. Não precisamos ser uniformes. Nossa diversidade enriquece a raça humana. No entanto, as diferenças não podem impedir a nossa unidade. Muito pelo contrário, é justamente a capacidade de admirar nossa diversidade com uma alta dose de pluralismo e respeito que carrega o potencial de nos tornar ainda mais unidos. Isto é o que devemos almejar para o novo ano judaico, unidade sem uniformidade. Shaná Tová!