Sergio Simon fala sobre os últimos passos antes da abertura deste grande empreendimento
Daniel Waismann, da Redação
O Auditório Franco Montoro, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, recebeu grande número de pessoas que aplaudiram os homenageados de 2019 do Conselho Estadual Parlamentar das Comunidades de Raízes e Culturas Estrangeiras (Conscre). Sergio Daniel Simon foi o escolhido para representar a comunidade judaica. Filho de pai alemão, refugiado do regime nazista, e de mãe de origem marroquina, nascida em Belém do Pará, Simon preside a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica.
Sua atuação comunitária se destaca, há mais de dez anos, na presidência da Associação dos Amigos do Museu Judaico de São Paulo e à criação do Museu Judaico, situado na Rua Martinho Prado, região central da Cidade.
Familiares, amigos e membros do Conselho e da Diretoria do Museu Judaico foram à Assembleia para cumprimentar Simon, entre eles o ex-ministro Celso Lafer, Daniel Feffer, Moshe Sendacz, Roberta Alexander Sundfeld, Ruth Tarasantchi, Tania Tarandach, Nancy Rozenchan, Linda Derviche Blaj. Sergio Serber, vice-presidente do Conscre, e Ricardo Berkiensztat, vice-presidente Executivo da Federação Israelita do Estado de São Paulo, entregaram a placa de prata ao homenageado, que estava acompanhado de sua esposa Renata Simon.
Sergio Simon concedeu esta entrevista exclusiva à Tribuna Judaica sobre o Museu Judaico de São Paulo, que deve abrir suas portas no primeiro semestre do próximo ano.
Tribuna Judaica: Conte-nos um pouco sobre a história da construção do Museu Judaico de São Paulo.
Sergio Simon: Nós adquirimos o prédio do Templo Beth El, que foi inaugurado em 1932, pois a comunidade que frequentava o local havia deixado de frequentá-lo. Propusemos instalar o Museu ali, para que não se perdesse aquela construção, que provavelmente se transformaria em um prédio comercial. Começamos a trabalhar em 2004 nesta ideia. Fizemos um concurso de projetos entre vários escritórios de arquitetura e adquirimos a licença da prefeitura de um terreno na avenida Nove de Julho, que não pertencia ao Templo e precisávamos para incorporar o projeto. Demoramos também para fazer todo o plano museológico, que começará sua instalação agora. Foi um trabalho árduo, em meio a crises econômicas e dificuldades – pois as doações ficaram mais difíceis -, mas terminamos a construção. A previsão é abrir no primeiro semestre do ano que vem.
TJ: Na abertura, o que as pessoas poderão encontrar no Museu?
SS: Na área da sinagoga, haverá uma exposição muito grande sobre Judaísmo, incluindo as festas judaicas, os valores, as festas, o ciclo de vida. Na área de recepção, haverá uma pequena história do Templo Beth El, com fotos desde a construção. No andar de baixo, será contada toda a história dos judeus no Brasil, desde o Descobrimento até os dias de hoje. E no último andar aberto ao público, haverá a área de exposições temporárias. Já estamos em contato com vários Museus Judaicos Internacionais, como o de Jerusalém, de Berlim, de Nova York, que possuem exposições itinerantes, para ocuparmos este espaço. Ainda este ano, antes da abertura completa do Museu, receberemos a exposição do Museu Judaico de Xangai, na China, sobre o Gueto de Xangai, que funcionou no fim de 1930 até o encerramento da guerra, abrigando mais de 20 mil judeus alemães que se refugiaram. Além disso, o Museu terá uma biblioteca para pesquisa, especializada em Inquisição e Holocausto. Neste mesmo andar, também haverá duas pequenas áreas de exposição sobre o acervo do Arquivo Histórico Brasileiro.
TJ: O que pode ser encontrado nesse acervo?
SS: Hoje este arquivo se chama Centro de Documentação e Memória (CDM), e temos muitos documentos, fotos, objetos que nos foram doados – temos cerca de um milhão de páginas de documentos, com fotos da comunidade e um material muito rico. A seleção do que será exposto no museu é feita por um grupo de curadores. Já estamos fazendo algumas pequenas exposições na sede do CDM em Pinheiros – atualmente temos uma exposição sobre judeus italianos e judeus da Lituânia, que é muito interessante.
TJ: Para a parte final, antes da inauguração, qual será o principal desafio?
SS: Ainda precisamos de verba, por isso estamos focados na parte de captação, não só de pessoas físicas, mas também de pessoas jurídicas, e também do Governo. Já estamos muito próximos de atingirmos a nossa meta, e com certeza vamos conseguir no ano que vem inaugurar o museu.
TJ: O senhor recebeu uma homenagem do Conscre, na Assembleia Legislativa de São Paulo. Como foi ser escolhido para essa honraria?
SS: O Conscre homenageia líderes de diversas comunidades, e fui escolhido pela comunidade judaica pela implantação do Museu, que é dirigido para a sociedade maior. Ele tem como objetivo, através do conhecimento, diminuir o racismo, o antissemitismo e a intolerância contra minorias. É um Museu que apela muito fortemente para questões de cidadania, de convivência pacífica. Temos um departamento Educacional muito forte, que está trabalhando em um programa bem interessante para as escolas públicas de São Paulo, de tolerância e convívio harmônico. O preconceito e a discriminação atingem hoje pouco os judeus no Brasil, mas alcançam populações pobres, crianças de favelas, nordestinos, e o Museu vai mostrar, pelo exemplo dos judeus, que isso tudo deve ser revisto pela sociedade.